(Por que não Banksy)

Estou interessada(o) nos pequenos ambientes, nos pequenos objetos. O movimento me levou pra este espaço. A massa me entristece, mas eu ainda descanso.


WoT No Dance?
W.Schwartz/2008

Todo processo artístico é um processo co-evolutivo. Mesmo as obras clássicas podem ser influenciadas e modificadas por conta das necessidades de um sujeito que observa sua época com olhos críticos – vide Glen Gould que se apóia na partitura de Bach para criar, em co-evolução com a história, uma possível partitura clássico-contemporânea.

Os textos de Shakespeare representados ao longo do tempo tiveram também outras partituras que viabilizaram seu tecido literário ao público atento à projeção de uma realidade simbólica aplicada à sua época. Peter Greenway em seu filme, A Última Tempestade (Prospero’s Book/ 1991) expõe na sobreposição de figuras fantásticas, de ruídos sonoros o cenário inquietante dessa obra. Ele retira o signo Shakespeare de seu império das letras e o lança em um ambiente de imagens que propõem outra escrita, outro léxico em um novo conjunto de forças poéticas.

Lygia Clark começou seu trabalho nas artes visuais com pinturas que poderiam se aproximar esteticamente da linguagem de Malevich. Em seguida, seus quadros deixaram a moldura, tornaram-se objetos para serem manipulados e ainda, atingiram o corpo e suas camadas sensíveis com os objetos relacionais, “privilegiando a experiência individual em detrimento da materialidade da obra, usando objetos relacionais com fins terapêuticos”. (Wikipedia)

Hélio Oiticica trabalhou sua percepção do mundo apostando progressivamente nos riscos e nas infinitudes dos temas de suas obras, que não couberam somente dentro de galerias, mas tiveram uma margem viva de estímulos criativos que adentraram a ordem do cinema, das artes visuais, da literatura, da dança popular (samba). Seus objetos geralmente causam vertigem e são de catalogações complexas.

Longe de comparações na vertical, em sua grandiloqüência, o presente projeto sugere uma inquietação. "wot no banksy" é um trabalho em dança contemporânea, feito por pesquisadores dessa área. Ambos tiveram introdução às técnicas da dança em geral, e agora propõe outra visão sobre o movimento. Um movimento contínuo, pequeno, presente mais em sua idéia do que em categoria. E, ao apresentar-se de forma impermanente incita, também, um trans-espaço para sua representação.

Nada desse projeto poderia ter se desdobrado se o histórico dos artistas aqui representados não estivesse pragmaticamente em acordo com as questões de tempo, espaço, plano e subjetividade abordados pelos estudos do corpo na dança. Sem um estudo coreográfico, talvez não tivessem possibilidade de apresentar ao público observador uma proposta como essa: em certa medida arriscada por dialogar com temas do cinema e das artes visuais – como também as artes de rua (pichação e grafite). Entre uma miscelânea de técnicas, surge a pergunta: quando surgiria esse Eu, autoral, subjetivo em meio a uma imensidão de diversidade cultural (chamada Brasil/Mundo), em uma imensidão de apoios estéticos (encontrados no Brasil/Mundo)?

O desejo parece ser mais complicado do que as modalidades. E a necessidade de comunicação é um tema ontológico em que muitas mídias são criadas para facilitar um encontro.

Aqui propomos “Wot No Banksy” como proposta de dança. Dança Contemporânea, que irá dialogar com o cinema, as artes visuais e irá propor ao público um olhar observador da pequenez do movimento, da pequenez de um corpo que está tornando-se menor em sua ecologia, por vias antinaturais causadas pela dispersão cultural: em confronto com a violência, o corpo evita expressar-se de forma grandiosa, por que já não tem mais tanto valor. Por que perdeu seu significado humano.

Segue essa apresentação como uma carta endereçada de dois para alguns.

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