+++ O nome deste blogue surgiu em uma tarde de dezembro, em conversa com meu amigo Wagner Schwartz. Estávamos trabalhando na criação desse espaço. As boas conversas são geralmente um pouco caóticas, pertencem a vários lugares, mas em algum momento se encontram. Foi em um desses caminhos que Wagner incitou a conexão poética da hipótese de meu projeto de tradução com o  s.e.m.á.f.o.r.o. 

O semáforo determina limites, muitas vezes por conta da história de um corpo que não consegue mais ter a percepção de que estes também são necessários; ou por não conseguir enxergar o outro lado de uma avenida, ou por não poder mais olhar à sua volta. Alguns corpos precisam de regras, manuais, explicações e de significantes para entenderem uma pausa. 

Neste caso, as luzes de um semáforo não podem produzir um fluxo de expressão, cada cor tem sua lei e, sem possibilidade de desdobramentos, o motorista e o pedestre reagem. 

Uma relação de ação e reação pobre, fraca em linguagem. 


"O significante não nos serve para nada (...) Somos puramente funcionalistas: o que nos interessa é como alguma coisa anda, funciona, qual é a máquina. Ora o significante ainda pertence ao domínio da questão "o que isso quer dizer?" (...) O que explica o fracasso do funcionalismo é que tentaram instaurá-lo em domínios que não são os seus – grades conjuntos estruturados: estes não podem formar-se, não podem ser formados da mesma maneira que funcionam.

Trata-se de saber se ele funciona, e como e para quem. Ele mesmo é uma máquina. Não se trata de o reler, será preciso fazer outra coisa (...) Nós nos dirigimos aos inconscientes que protestam. Buscamos aliados. Precisamos de aliados. E temos a impressão de que esses aliados já existem, que eles não esperaram por nós, que tem muita gente farta, que pensa, sente e trabalha em direções análogas (...)

(...) O que buscamos é a maneira pela qual ele faz passar alguma coisa que escapa aos códigos: fluxos, linhas de fuga ativas revolucionárias, linhas de decodificação absoluta que se opõem a cultura."

 

(Guattari, F. e Deleuze, G: 2008/43)

 

Neste espaço trabalhamos as relações possíveis entre artistas, público, produção. As relações que surgem das necessidades de troca, de conhecimento, de dúvidas. Um encontro entre curiosos para tentar minimizar as hierarquias, a tirania, o terrorismo da expressão “formação de público”. Para o Semáforo, não existe público a ser formado, pois estas divisões são imposturas incididas pela falta de conhecimento espacial,  por um modismo idealista ou pela atitude de certos protagonistas sociais que ainda pensam que irão transformar uma narrativa (que não começou ontem, mas que é dobra de outras dobras) à força.

A idéia aqui publicada não se interessa em formação de público, mas em tradução (na perpendicular, em vai-e-vem). 

A tradução como um traço possível nas diferenças.